Embora sonhasse, aos 14 anos, ser jogador de vôlei do Minas Tênis Clube, não entrei para o Clube pelo esporte. Não tinha altura nem talento para ser atleta. Meus caminhos foram outros: entrei aqui pela porta da arte, da literatura. O Minas, que tantas vezes habitou meu imaginário nas páginas de Roberto Drummond, acabou cruzando minha vida não pelas quadras, mas pelas palavras.
Quando criança, vinha passar férias em BH, e meus tios, Arnaldo e Maria José, me traziam para nadar aqui. Na adolescência, passava pela rua da Bahia e, olhando para o Clube, me perguntava o que havia de verdade naquele cenário que o autor de Hilda Furacão transformou em ficção e mistério com a sua personagem tão emblemática. A literatura tem esse poder de dar outras camadas de significado aos lugares. Foi ela, afinal, que me trouxe de volta ao Minas, anos depois.
Minha companhia na época, Luna Lunera, passou a se apresentar no Centro Cultural. Em 2016, entrei no Letra em Cena e encontrei um portal para outros mundos. Conheci o professor Antônio Sérgio Bueno, apaixonado por letras e mestre da UFMG. Anos depois, em 2020, veio o convite para participar de uma edição dedicada a Drummond, com o escritor José Miguel Wisnik, de quem sou fã.
Wisnik assistiu ao meu vídeo e, durante a entrevista, citou outro meu, uma leitura de Guimarães Rosa. Ele teceu palavras generosas sobre meu trabalho. Chorei! É difícil pensar que algo que a gente faz possa, um dia, ter serventia para um ídolo. É como se tudo o que criamos fosse destinado às gerações que vêm depois de nós. A partir dali, conheci Wisnik. Foi um presente do Letra em Cena que me trouxe ainda contatos com literaturas que eu nem sabia que existiam. Cada edição é uma oportunidade de descortinar um novo mundo!
O Minas sempre foi sinônimo de excelência esportiva e, à medida que investe na cultura, afirma que nossa saúde mental e existencial está atrelada a essa multiplicidade de experiências de que o ser humano necessita. E o Minas oferece esse convite à convivência para toda a cidade. Que ele siga abrindo portas por mais 90 anos, ou 90 décadas. Que atravesse os tempos com a antena ligada no presente e também no amanhã. E que, daqui a 90 anos, alguém diga: "Caramba, está aí um Clube que nunca parou de caminhar, que nunca deixou de sonhar outros futuros possíveis."